Da homossexualidade e outras banalidades

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(uma taça de magnórios ao fundo, verde)

Isto sem pretensões históricas, psicológicas ou estéticas, mas ser gay é fodido. Reparem, nascemos predestinados a uma Opus Dei ainda mais encoberta, mais escura e mais funda. Encaramos o mundo com o maneirismo lapidado nos olhos. Subimos e descemos a calçada da vida sempre do lado contrário ao movimento. Criamos. Pinamos hierarquicamente. Segregamo-nos, odiamo-nos.

Eu que de relacionamentos quase não conto nenhum e de promiscuidade peco muito mais por omissão do que por acção (e que assim seja), digo-vos que ser gay é mesmo fodido. Há uma improbabilidade biológica nisto tudo, uma falta de sentido aparente. Bem, que se arranje um sentido aparente, então. Não será isso a religião, parte da política, toda a filosofia e muita, muita da ciência, Deus meu, muita da ciência? Arranjar um sentido aparente, como se faz bainhas nas calças e pregas na saia. Porque não a destruição de tudo, o reconstruir tudo? À imagem de Deus, como todos os outros, mas mais Ele, enérgico, mais fatal do que os outros. Explicando. Os gays, por necessidade de sentido aparente e impossibilidade social de seguir as regras do pré-definido, do funcionário-público-com-dois-filhos-uma-mulher-e-um-piriquito-num-T2-de-periferia, que criem, que mudem a merda do mundo, que, já que não podem trilhar o caminho trilhado, já que o caminho será sempre novo e calejado, então, que o façam grande, humano, superior e vertical. Não sei se me entendem, mas, quando tens um modelo traçado para ti, uma sociedade esquadrilhada por séculos de filosofia e política para, supostamente, servir as tuas necessidades até ao tutano, tu não te mexes facilmente para destruir tudo; mas, quando a sociedade te é como um espinho nos cristos da igreja de dourados e velhas com terço, bafientas e moles, então, que a destruías com a parcimónia do habitual, do chá das cinco e o jantar das oito, para teu proveito e fatalidade dos demais. 

(a dentada esperada no magnório. Rijo. Quiçá doce)


* Sean Connery & Ursula Anderson 007 - 1962

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