Introdução Vespertina:
Disto será feito um blog. Prefaciemo-lo, então. Púnhamos-lhe
uma introdução catita e brindemos à desbanda de palavras do escrevinhador.
Rezemos pelo erro de escrever, pelo erro de não sermos a Folha Branca. Bebemos
ao erro, subamos a montanha do erro e nos atiremos de lá a baixo. Escada a
escada nos sujando da poeira da vida, sabendo que a vida suja e mesmo assim,
hereticamente, certamente, rebolando na erva, nas florzinhas mimosas que serão
destruídas só porque o escrevinhador resolveu levantar a pena da indecência em
tom de solenidade. Isto é existência: um
erro! Mas, concomitantemente façamos dela um erro enorme, de ladeiras
escarpadas, de casas caídas, de rios e de cidades. Façamos cinema das palavras
e das ideias. Criemos a história ao alto e as personagens voltadas para Deus,
peçamos protecção e esperemos pelo fim no sobreiro maior. Inovemos, mas não
inovemos para melhor, inovemos para inovar e para errar. Erremos pelo gosto do
erro. Nos sujemos por fobia ao branco, ao puro e ao cândido. Faça-se a
destruição do virgem, acabem com o medo, que o sono é terminal.
(voltando à Folha)
Dela aqui será feito uma coisa pomposa,
nunca menos que o luxo, a extravagância. Não há crise no mundo do sonho e da
vida. Punha-se títulos barrocos, adjectivados, trocadilhos fáceis, comparações
banais, analogias corriqueiras… Tudo quanto aponte para o vazio e para o nada,
que é o grande destino humano e do que é humano se faz a palavra. Vamos trocar
vírgulas por vírgulas, pôr vírgulas, tirar vírgulas, escrever sem vírgulas e
pontos orgiacamente enfeitantes e reticências agrupadas em manifestações de
afecto, juntinhas – pombas desvairas em chafarizes de cidade pequena. Deixemos
que a dislexia interior nos molde o barro de caleidoscópios primorosos,
deixemos que a cereja e a papaia e a maçã marquem as suas nódoas onomatopeicas de
Miró.
(Azula-se o céu sobre o Prefácio.
O chá quente – matutino - as bolachas - o abismo).
A dor de não se ser. Quadros de
Skapinakis imensuráveis, crescendo para mim. Uma mão velha afagando a mão nova que
cresce. A minha mão afagando a minha mão. Punha-se o pé direito diante do pé
direito (pés direitos múltiplos, siameses de mim em surrealismo andante) e caminhe-se.
Partamos direitinhos ao abismo com o chá em flute, arremesse-se as perucas
setecentistas ao ar, tiremos a casaca de corte recto e faça-se o salto mortal,
de peito bamboleante, carnes retesas esperando o pior, cabelo ao vento.
Tomo o último gole de chá e
salto.
(Ouviste, Salto. Sim, salto.)
Salto, que do salto farei Folha
Branca em degradê de esperança.
(Perdoai-me o kitsch, que não lhe resisto)
Salto no matiz da existência, no
limiar de mim!
Avé
*Quintais de Lisboa, 1956, Nikias Skapinakis
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