Tango

*


Era grande a gaivota branca da praia da manhã. As gaivotas fazem sentido nos bairros negros do Inverno. Gritos de pranto se levantam aos céus por entre as pernas das varinas. Grunhidos, Dolcinha, grunhidos. Não há coisinha nenhuma mais solene do que uma varina viúva do mar, com tantos filhos como saias, com a alma cravejada das tempestades que viram os barcos das vontades que nos fazem por dentro maiores que os monstros que comem pessoas e as levam para onde não querem ser levadas. As pessoas são sempre levadas para onde não querem ser levadas, quando encontram os monstros que comem pessoas.

(MUTAÇÕES DO GENE SONY HEDGEHOG, QUE ESPECIFICA A LINHA MÉDIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL, SÃO UMA DAS CAUSA DE HOLOPROSENCEFALIA)

O médico olha a varina. A varina não é a varina, a varina é a hipertensão arterial. As tensõezinhas, nove-catorze, dez-catorze…o salzinho…os fritos…aquele nevo a olhar para mim e a gritar. A varina é a diabetizinha, a varina é a caixinha de chocolates no natal. Nada mais. Para a varina sou uma bata branca, um bom partido para a filha- a Sandra- manicura, metida nas drogas, mas umas unhas, que era só o doutor ver. Um diamantezinho na aba do nariz. Um decote farto, uma mão lestra. 


*João Salaviza

Sem comentários:

Enviar um comentário